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O Luto das vítimas da COVID-19

Temos em nossa cultura que homenagear a quem morre é visto como uma forma de reconhecer e demonstrar carinho e afeto por quem partiu. Não se sabe ao certo onde e como surgiu a cultura do enterro, mas há indícios de que esse é um ritual muito antigo. Já foram descobertos cemitérios que os pesquisadores estimam existir desde 60000 A.C, o que nos leva a crer que enterrar pessoas e animais mortos é mesmo um costume muito antigo.

Se tratando de uma cultura milenar de velar, enterrar, acompanhar todo processo fúnebre, vivenciar a perda de entes queridos nesta fase é um novo desafio, no caso das famílias que optem por fazer as homenagens fúnebres, os órgãos competentes dizem que o caixão deve estar lacrado e fechado, e que a cerimônia não pode ultrapassar uma hora de duração nem ter mais de 10 pessoas.

A forma como a qual as perdas pela covid-19 acontecem, afastamento da família, a forma diferente da despedida deixará marcas psicológicas em milhares de pessoas impedidas de viver o luto.

O ritual do velório, quando se olha para o corpo de alguém morto para a despedida, é a maneira de se compreender que de fato aquela pessoa se foi. Pular esse momento, além de agravar a dor, traz efeitos psíquicos indesejáveis.

Estudos no campo da psicanálise apontam que parte das depressões mais difíceis de curar, por exemplo, decorrem de luto mal feito, mal elaborado, interrompido ou não reconhecido.

De acordo com Dunker, o luto é um processo de ressignificação da dor. "Quando a gente tem numa família um corpo que é perdido, um velório que não é feito, uma despedida que não se realiza, ali, naquele espaço do irrealizável, muita coisa pode ser introduzida em um plano traumático. Em tese, é muito ruim quando a gente não tem esse momento da despedida e da experiência do corpo como morto.".

Estamos diante de um desafio, aprender um novo luto, as mudanças ou impossibilidade de velar e enterrar os mortos, em muitos casos o não se despedir dos entes queridos. A despedida do corpo é parte importante no processo de ressignificação do luto, ter esse momento de passar pelo processo de chorar, de visualizar a perda.

Então a gente sai de um movimento cultural no qual a morte e seus rituais são extremamente importantes para um momento em que as pessoas são enterradas em um processo diferente, e aprender a lhe dar com esse novo é o que estamos trabalhando.

Nossa colaboradora Agente Funerária Fabiana Rocha descreve: “Nesse momento tão difícil que é o luto, fazemos de tudo para que as famílias  proporcionem uma despedida ao seu ente querido. Nesse período de pandemia não se pode velar corpos confirmados de covid-19, é muito triste ver um familiar sentindo a dor do luto e não poder se despedir, já vem o período de isolamento social, período de internação do ente que não pode ter contato com a família, e quando vem a óbito não poder nem se despedir? Nós da Organização Divina Luz  proporcionamos uma cerimônia que mesmo a distancia a família possa reviver as lembranças que tiveram em vida com seu ente, com fotos, vídeos, músicas. Isso pra nós que lidamos com o luto todos os dias é emocionante saber que podemos contribuir um pouquinho para que esse momento fique registrado na memória e no coração da família, e que não seja um momento só de dor e tristeza e sim de boas recordações”

Além disso, contamos com serviço de apoio psicológico a enlutados, nesta fase sendo elaborado projeto terapêutico diferenciado para acompanhar as famílias enlutadas que tiveram perdas da covid-19.



 

Jéssica Sousa

Psicóloga CRP 09/009126
 

REFERÊNCIAS

- “Enterro: Entenda a sua origem, costumes e curiosidades” online em: https://facilitaseguros.com.br/blog/enterro-curiosidades/

- Covid-19 e a 'dupla morte': como lidar com a dor de um luto sem despedida. Online em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/04/01/covid-19-e-a-dupla-morte-como-lidar-com-a-dor-de-uma-morte-sem-despedida.htm